O Dia Mundial do Meio Ambiente, desde 1974, consta no calendário oficial da Organização das Nações Unidas (ONU) como uma data para promover a reflexão sobre a importância de criar políticas públicas de preservação da natureza. Neste ano, a data ganhou um peso ainda maior no Brasil devido às enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, no mês de maio.
Em paralelo a onda de solidariedade que tomou o país, mais de 538 mil gaúchos ainda estão desabrigados devido às inundações. O Estado ainda calcula os danos, procura por desaparecidos, nas ruas montanhas de lixo tomam conta, em meio aos esforços para recuperação dos estragos provocados pela chuva, cresce a preocupação com doenças relacionadas à contaminação pelas águas das cheias, já contabiliza 15 mortes por leptospirose.
Ao tomar o noticiário e as redes sociais nas últimas semanas, e comprovar mais uma os efeitos das mudanças climáticas na vida de milhões, embora ainda exista quem negue a relação. Vemos também como medidas de enfraquecimento das leis ambientais e somado a falta de planejamento e planos de emergência para cidades contribuíram demasiadamente para os altos números: seja de mortes, cidades e residências destruídas.
O fato é que mesmo diante dos que vimos no Rio Grande do Sul ainda estamos longe de vermos também mudanças reais para evitar ou amenizar os efeitos do colapso ambiental. Todos nós podemos ser vítimas, ontem foram os gaúchos, logo poderá acontecer em outras regiões e cidades. Estamos apenas colhendo décadas de agressão ao meio ambiente. Uma reação natural diante de tantos ataques.
Cientistas, estudiosos, ambientalistas e lideranças vem anunciando há tempos, há quem diga e acredite que até mesmo a Bíblia vem trazendo revelações sobre esse presente futuro de destruição e mortes, o fato inegável é que o ser humano é o principal causador desse processo, e cabe a nós assumirmos a responsabilidade, mudarmos o rumo, nos resta pouquíssimo tempo antes de chegar ao ponto de não retorno.
É comum em falas públicas de políticos e gestores que atribuem a falta de planejamento e investimentos à força da natureza ou a São Pedro, isso é risível e absurdo. A culpa não é e nunca será da própria natureza, e tampouco de São Pedro, em casos de fortes chuvas. Sejam dignos e honestos, precisamos assumir nossas responsabilidades diante do que vivemos.
Novamente travando uma luta hercúlea, que em muitas vezes é uma voz isolada, diante dos interesses políticos e econômicos em manter a exploração do meio ambiente, em especial na manutenção da matriz energética e do uso de combustíveis fósseis, grandes causadores da emergência climática. A Ministra Marina Silva resumiu o momento que vivemos, ao afirmar que “proteger o meio ambiente é salvar vidas”. Imersos nas cenas chocantes do Rio Grande do Sul, a fala da Ministra não é nada simplista, é o recado e aviso mais claro diante de tanta negação ou minimização da gravidade do cenário anual.
Marina Silva, uma das 100 lideranças globais mais importantes do Planeta, em pronunciamento à nação na véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente (04/06), falou em cadeia nacional de rádio e televisão, de modo claro a Ministra trouxe mais uma vez a necessidade de conciliar o equilíbrio climático com o crescimento econômico do país. Ela vem falando isso desde os anos 1980, e viu inclusive seu principal parceiro de luta Chico Mendes ser morto cruelmente em defender a floresta amazônica.
Marina, lembrou que que o Presidente Lula estabeleceu o compromisso de desmatamento zero em todos os biomas brasileiros e que já ocorreu uma redução de 50% do desmatamento na Amazônia, seguidos de outras reduções em outros biomas. No próximo ano, em Belém, capital do Pará será sediada a COP 30, maior encontro global de líderes, será a primeira Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas na regional amazônica.
O descalabro do mundo político que vive em outro mundo, ao ponto de propor a PEC das Praias, que segue em discussão no Senado Federal, mesmo indo na contramão da legislação de países desenvolvidos, como Estados Unidos, Inglaterra, Portugal e outros, ao propor a flexibilização de construções em áreas costeiras, ainda que não trate do acesso ao mar ou areia. Poderia enumerar uma centena de outros ataques ao meio ambiente no campo legislativo e político, mas ficamos apenas com a PEC da privatização das praias no cenário de destruição do Rio Grande do Sul.
Faltando menos de 120 dias para as eleições municipais, vamos eleger vereadores/as e prefeitos/as. A pauta ambiental deveria ser central no debate eleitoral e nas propostas dos políticos. Talvez não seja, mas aí cabe a população ficar atenta e escolher quem realmente tem boas propostas para enfrentar e modificar os rumos dessa corrida desenfreada de destruição que vai nos matar.
Neste Dia Mundial do Meio Ambiente de 2024 as cenas do Rio Grande de Sul, mesmo que de forma silenciosa é amplificada, afinal, não vemos falas, compromissos, ações e tampouco atitudes concretas dos políticos na mesma intensidade dessa tragédia humanitária e ambiental, passada a fase de solidariedade e comoção o que precisamos é mudar os rumos, não seguir nesse sentido.
Albert Einstein já profetizou que "insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes". Neste dia do meio ambiente apesar de tamanha destruição do Sul o que vimos ou esperávamos ouvir dos políticos era a mudança desse paradigma, mas eles insistem em seguir pelo caminho do caos, que apenas nos levará para mais mortes e destruição.
Mín. 16° Máx. 27°