Nem toda tradição merece ser perpetuada. Algumas carregam em si uma herança de dor que já não cabe mais em uma sociedade que se diz civilizada. Em Poço Fundo, o que era para muitos uma noite de festa se transformou em um triste retrato da barbárie disfarçada de cultura: um touro, exausto, maltratado, humilhado diante de uma plateia, tombou no chão sem forças sequer para se manter em pé.
O que se seguiu foi ainda mais estarrecedor. Apagaram-se as luzes, como se a escuridão pudesse esconder a vergonha, silenciar o grito mudo de um animal derrotado não por bravura, mas pela crueldade.
A imagem daquele corpo imenso, antes símbolo de força, caído ao chão como um fardo inútil, deveria ecoar na consciência de todos os que assistiram — e daqueles que ainda aplaudem esse tipo de espetáculo.
Até quando vamos naturalizar a violência em nome da tradição? Até quando vamos permitir que a dor seja transformada em entretenimento?
Um povo que evolui precisa ter coragem para romper com o que fere, com o que oprime, com o que maltrata. Rodeio não é cultura — é covardia institucionalizada, romantizada e vendida como diversão. Chega de aplausos para a dor alheia. É hora de apagar as luzes não para esconder a crueldade, mas para dar fim a ela de vez.
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